Na sociedade
atual, hedonista e secularizada, a figura do Padre é objeto de muita discussão,
inclusive através da mídia.
Frequentemente, pessoas que pouco entendem do
assunto, se permitem a audácia, talvez até com boa intenção, de dar sugestões
sobre como deveria ser o sacerdócio católico.
O Presbítero, habitualmente chamado pelo povo de
Padre, possui o segundo grau do Sacramento da Ordem. Portanto, é Sacerdote,
assim como o Bispo, que tem a plenitude deste Sacramento.
Nesta reflexão, vamos considerar algumas razões
para ser Padre, isto é, participante do Sacerdócio de Jesus Cristo, hoje e
sempre.
Primeiramente, é preciso compreender que o Padre
foi chamado por Deus. Não é uma vocação que alguém escolhe, porque se julga
apto para tal, ou porque acha interessante. A escolha é de Deus, e o seu
chamado não se discute. Por isso, o sacerdócio é um privilégio, imerecido.
Quando da eleição dos Apóstolos, e também dos discípulos, Jesus passou a noite
em oração. Pela manhã, Ele escolheu os que queria para o seu grupo, com os
quais fundou a sua Igreja, que subsistirá até o fim dos tempos – a Igreja
Católica Apostólica Romana.
O Padre é homem de Deus. Esta é sua característica
fundamental. Tudo que se queira acrescentar à sua figura são detalhes
acidentais. Jesus, aos 12 anos, afirmou: “Não sabíeis que devo ocupar-me das
coisas de meu Pai?” (Lc 2,49). Tal é a realidade mais profunda do Padre – as
coisas do Pai. Isto não impede que seja uma pessoa politizada e comprometida
com a realidade que o cerca. Não se trata de fazer política partidária, que não
compete ao ministro ordenado, mas da orientação ao seu rebanho para a prática
da cidadania e um posicionamento segundo a moral cristã, sempre tendo em vista
o bem comum.
Apesar do secularismo, a que já aludimos, o homem
hodierno busca, sequiosamente, o rosto de Cristo. Por isso, o Padre é chamado a
ser representante do próprio Senhor: ele o torna novamente presente. E quanto
mais transparente e mais perfeita for essa presença, melhor responderá às
indagações dos que a procuram. Nosso pranteado Papa João Paulo II nos exortava
a contemplar o rosto de Cristo, para revelá-lo aos outros. Chegou a dizer que
os Padres são o “Coração de Jesus” – expressão forte, que significa o amor de
Jesus, divino e humano, que o Padre deve transparecer, através da missão que
exerce. O povo quer ver, tocar, perceber, ouvir o Cristo na pessoa do Padre.
Por isso, a palavra do Padre não é dele mesmo, mas é a Palavra de Deus. O toque
sacramental do Padre não é um toque meramente humano, mas ultrapassa esta
dimensão e penetra no divino, do qual o sacerdócio é, de fato, mediação. Esta
configuração ao Cristo tem profundas raízes teológicas, que atestam a
exclusividade do sacerdócio para os varões, como participação no único e eterno
sacerdócio do próprio Cristo.
Jesus não escolheu nem sua própria Mãe Santíssima,
para compor o grupo daqueles que seriam a base apostólica da sua Igreja. Mas
não é nosso propósito discutir este assunto, no presente texto. Apenas
confirmamos a posição da Igreja, em nome de quem o Papa João Paulo II falou,
quando expôs, claramente, seu ensinamento a este respeito. Ainda segundo o
saudoso Papa, na sua Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis – “Dar-vos-ei
Pastores segundo o meu Coração” (Jr 3,15), de 25 de março de 1992, o Padre tem
que possuir 5 qualidades essenciais:
1° Ser homem, física e psicologicamente, sadio.
2° Ser pessoa de oração, portanto piedoso. Pietas,
em latim, significa um devotamento filial aos pais. O Padre deve ter um afeto
filial, carinhoso para com Deus, nosso Pai, e é a partir desse modelo, que ele
vai buscar a delicadeza paterna, e materna, que demonstrará na sua experiência
humana de diálogo com o mundo de hoje, homens e mulheres do nosso tempo.
3° Ser uma pessoa culta. A formação intelectual de
um Padre exige um mínimo de 7 anos de estudos universitários, incluindo as
Faculdades de Filosofia e de Teologia, além da comprovada competência pastoral.
4° Ser um verdadeiro pastor. Deve conhecer os
problemas que se abatem sobre a humanidade, para dar a resposta pastoral
necessária, dentro de uma visão eclesial coerente.
5° Ser um elemento de equipe, que saiba viver em
comunidade e para a comunidade. Que nunca trabalhe só, a não ser nas coisas do
trato direto com Deus. Tudo o mais seja feito em conjunto com a comunidade a
que ele serve. Isto exige afabilidade, equilíbrio e capacidade de diálogo.
Como seguidores de Cristo, os Apóstolos tiveram que
deixar tudo: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a mim, não é digno de mim.
Quem ama seu filho mais que a mim, não é digno de mim” (Mt 10,37). Trata-se da
doação integral da pessoa e da sua capacidade de amar, para que Cristo dela
disponha em favor dos mais necessitados: os pobres, os pecadores, os que sofrem
de múltiplas carências, os que nos procuram para aconselhamento. Para estar
disponível a tudo isto, permanentemente, é preciso ter um amor exclusivo. São
Paulo diz, claramente: “O solteiro cuida das coisas que são do Senhor, de como
agradar ao Senhor. O casado preocupa-se com as coisas do mundo, procurando
agradar à sua esposa” (1Cor 7,32-33). Portanto, tem um coração dividido. O
Padre não pode viver assim. O seu amor, as suas energias, a sua competência,
tudo deve estar a serviço das ovelhas do seu rebanho. Por isso, a Igreja, desde
os primórdios, introduziu o celibato, seguindo a exigência que Jesus fez aos
Apóstolos sobre deixar tudo. Apesar do que afirmam as críticas apressadas a
esta norma antiquíssima, o celibato sacerdotal não é a causa de eventuais
problemas afetivos. O Pontifício Conselho para a Família tem afirmado, muitas
vezes, que se encontram na família os maiores problemas da atualidade, sob
qualquer ponto de vista: pastoral, social, cultural. Não adianta querer
resolver uma suposta carência afetiva na vida do Padre, apelando para o
Matrimônio, como se fosse à solução mágica. Na vida a dois também há solidões.
E muitas. Talvez, até, mais dolorosas do que no celibato. Os psicólogos estão
aí para comprová-lo. A doação integral do amor faz parte da condição
existencial do Padre. Sendo uma vocação, é a única capaz de realizá-lo como
pessoa.
Quem não for capaz disto, por um compromisso total,
irrestrito e perpétuo, não é chamado para o sacerdócio, segundo a vivência da
Igreja Latina, Ocidental. Rezemos para que Deus nos dê sempre bons e santos
Padres, segundo o seu Coração: “A promessa do Senhor suscita no coração da
Igreja a oração, a súplica ardente e confiante no amor do Pai de que, tal como
mandou Jesus o Bom Pastor, os Apóstolos, os seus sucessores, e uma multidão
inumerável de presbíteros, assim continue a manifestar aos homens de hoje a sua
fidelidade e a sua bondade” .
Pastores Dabo Vobis, n°82