Tendo diante dos olhos
a identidade presbiteral e as novas circunstâncias de nosso tempo, o presbítero
deve ter em vista ser pastor do povo de Deus, discípulo, missionário, servidor,
amigo dos pobres e misericordioso com os fracos.
Os Presbíteros sejam Pastores DISCÍPULOS de Cristo!
Criatura de Deus, pela
criação, e ‘filho no Filho’, pela redenção, o presbítero, por vocação, deve
viver como discípulo de Jesus Cristo. Pelo fato de ser enviado para anunciar a
Boa Nova, deve, antes, estar com Ele (Jesus). O missionário inicia sua
caminhada com o discipulado. Realmente, o caminho mais sábio para vir a ser
Pastor, “mestre da Palavra, guia da Comunidade e ministro dos Sacramentos” é
tornar-se discípulo de Cristo. A experiência do discipulado de Cristo ensina
todas as virtudes, comportamentos e atitudes, que devem ornar a personalidade
de um verdadeiro pastor: a sabedoria de um verdadeiro mestre, a autoridade de
um autêntico guia e o serviço de um humilde ministro.
Pelo fato de os
presbíteros serem aprendizes na escola do discipulado, convém insistir na originalidade
do seguimento de Cristo. O discipulado de Cristo não os vincula a algo
transcendente, à lei ou a um programa, mas a Cristo, pessoalmente. De fato, no
início do ser cristão não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o
encontro com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, assim, o rumo
decisivo. Além disso, o seguimento de Cristo não se equipara ao seguimento de
outros mestres. Estes podem indicar o caminho e apontar a porta, mas não são o
caminho nem a porta. Quando encontramos o caminho, podemos legitimamente
esquecer o líder ou mestre. Cristo, porém, sendo Deus, é ‘Caminho, Verdade e
Vida’. Assim, seguir o caminho é entrar no Caminho, é entrar em Cristo e Cristo
em nós, numa profunda ‘interioridade mútua’, formando como que uma ‘única
personalidade mística’. É assim que a ovelha se torna um pastor; o discípulo,
um mestre; o seguidor, um guia; o servidor, um ministro.
Os Presbíteros sejam Pastores MISSIONÁRIOS da Boa Nova...
Os chamados ao
seguimento de Cristo, já parecidos com o Mestre, têm condições de serem
enviados a anunciar o Evangelho do Reino de Deus, animados pelo Espírito Santo.
Ora, os padres são os primeiros agentes de uma autêntica renovação da vida
cristã no povo de Deus. Especificamente, “a renovação da paróquia exige atitudes
novas dos párocos e dos padres que estão a serviço dela. A primeira exigência é
que o pároco seja autêntico discípulo de Cristo, porque só um padre apaixonado
pelo Senhor pode renovar uma paróquia. Mas, ao mesmo tempo, deve ser ardoroso
missionário que vive o constante desejo de buscar os afastados e não se
contenta com a simples administração”.
Para ser
presbítero-missionário no Brasil requer-se atenção especial, pois a superação
de longa tradição da pastoral de conservação para uma evangelização missionária
inovadora supõe a adoção de novos modelos de pastoral: novas metas supõem ‘novo
ardor, novos métodos e novas expressões’ evangelizadoras.
Os Presbíteros sejam Pastores SERVOS do Povo...
É comum que os “chefes
das nações as dominem e os grandes as oprimam. Entre vós, porém, não deverá ser
assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja quem vos serve e quem quiser ser
o primeiro entre vós seja vosso servo”. Ora, a tendência de dominação, em nosso
tempo, agravou-se pelo processo de competição como sistema dominante.
Os presbíteros não
devem ser assim. Antes, devem seguir o exemplo de Cristo, que “não veio para
ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos”. Lembrem-se os
presbíteros que o diaconato que receberam é provisório como grau hierárquico, mas
é permanente como caráter sacramental: o presbítero sempre será
sacramentalmente diácono.
Os Presbíteros sejam Pastores AMIGOS dos pobres...
“A opção preferencial
pelos pobres está implícita na fé Cristológica naquele Deus que se fez pobre
por nós, para nos enriquecer com sua pobreza”. Logo, “essa opção nasce de nossa
fé em Cristo, o Deus feito homem, que se fez nosso irmão”. Tal opção “deve
perpassar todas as nossas estruturas e prioridades pastorais”. Assim, o padre,
com toda a Igreja, deve ser qualificado como “advogado da justiça e defensor
dos pobres”; como próximo, amigo e irmão dos pobres.
Os Presbíteros sejam Pastores MISERICORDIOSOS com os fracos...
Na Carta aos Hebreus, a
misericórdia é característica dominante da novidade do sacerdócio inaugurado
por Cristo, que “se fez em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo
sacerdote misericordioso e digno de confiança nas coisas que se referem a Deus,
a fim de expiar os pecados do povo”. Pois, “Ele sabe ter compaixão dos que estão
na ignorância e no erro, porque Ele mesmo está cercado de fraqueza”.
Por outro lado, a nova
situação cultural, pluralista e globalizada, é muito sensível a todo tipo de
comportamento que não leve em conta as diferenças. Tais comportamentos são
considerados como inaceitável discriminação. Isto exige dos Pastores da Igreja
largueza de ânimo, grandeza de alma e espírito bondoso, que saibam ir além das
fraquezas humanas. O pastor de nosso tempo tem que ser a imagem viva de ‘padre
do filho pródigo’.
Enfim, Modelo de Presbítero é o CRISTO-PASTOR...
“O sacerdócio
ministerial é participação na Igreja do mesmo sacerdócio de Cristo”. Logo, o
presbítero deve ser pastor como Cristo-Pastor. As virtudes pastorais de Cristo
devem vir a ser virtudes pastorais do presbítero. A parábola do Bom Pastor pode
ser tomada como texto inspirador: ela oferece um retrato acabado do Bom Pastor
e do verdadeiro pastor do Povo de Deus.
Por isso, ao ser
ordenado padre, o vocacionado participará da missão de Cristo e deverá ser: a porta, pela qual as ovelhas passam
para escutar a voz do Supremo Pastor; o
mestre, que conhece suas ovelhas e elas o conhecem; o sacerdote, que ama suas ovelhas e dá sua vida por elas; o guia, que conduz suas ovelhas às boas
pastagens, a fim de que tenham vida plena; o
missionário, que vai em busca das ovelhas desgarradas; o servo, que atua junto às ovelhas, não para servir-se delas, mas
para servi-las, com misericórdia.
Tenha sempre diante dos
olhos o exemplo do Bom Pastor, que não veio para ser servido, mas para servir,
e para buscar e salvar o que estava perdido.
Dom Antônio Carlos Félix
Bispo da Diocese de Luz - MG